Hoje é o último dia de Setembro e escolhi exatamente este dia para me manifestar sobre a importância de levar a sério o assunto saúde mental. Pra quem não sabe, o termo burn out vem do inglês e pode ser traduzido diretamente como esgotamento. Não tenho a menor propriedade clínica para falar sobre esse assunto, porém, quero trazer uma perspectiva que considero legítima de alguém que passou por essa experiência.
Na época que aconteceu comigo eu estava literalmente em velocidade máxima! Num cargo legal com iniciativas de destaque, MBA em curso, dando aulas, coaching e mentoria, especialização fora do país, muitas viagens... um monte de coisa e cada uma delas com os seus desafios, fora a vida pessoal. A primeira coisa que passa desapercebida, mas logo que acontece o esgotamento fica escancarada, é que velocidade alta queima muito combustível e quando ele acaba as consequências são bem sérias. É quase como pensar numa pane durante um voo que obriga um pouso de emergência! Assustador né? Não recomendo a ninguém. Por isso resolvi compartilhar um pouco dos aprendizados dessa experiência aterrorizante, mas que também me propiciou muita transformação, autoconhecimento e aprendizado. Vamos lá?
1) O seu corpo vai te avisar!
Diariamente seu corpo manda sinais sobre o que não está bem e estes sinais vão ficando cada vez mais fortes á medida que você os ignora. Até que um dia o corpo cansa de te avisar e faz reset do sistema por você: burn out... vamos ver se agora você entende! Preste atenção em você, note quais são as situações, pessoas e lugares que te fazem roer as unhas, ter noites mal dormidas ou dores de cabeça. Não espere para chegar no limite, porque ninguém sabe o seu limite até que chegue nele.
2) Identificou seus motivos de estresse? Agora trate!
A mágica aqui é reconhecer que você não é um ser iluminado como Buda ou um super homem, logo, você sim vai se estressar com as coisas! Sendo assim, você vai precisar aprender a lidar com elas da maneira menos danosa possível para você e para os outros. Nem todos os estresses são iguais e não existe fórmula única, vão ter coisas que você vai trabalhar até passar ileso e ter outras que batem muito forte, logo vai ter que evitá-las. Lembre-se que você tem o sensor de fábrica descrito no passo 1, que é o seu corpo e os sinais que ele manda são certeiros.
3) Se respeite!
Pelo menos comigo, existiu um movimento muito grande que começou na caça as bruxas para “encontrar os culpados” (chefes, colegas de trabalho, professores, etc) até um processo de desconstrução e auto responsabilização pelo que aconteceu. A conclusão que cheguei é que eu mesma me coloquei nas situações que me levaram a ter um burn out, eu permiti relações abusivas, permiti queimar todo o gás que tinha, não me escutei e sempre tentei contornar. No momento que você se escuta e entende, o último passo é se respeitar. Delimite os limites até onde as pessoas ou situações podem avançar sem ferir você e vá educando todos a sua volta para que não rompam estas fronteiras.
Por último, não como um aprendizado, quero compartilhar o que passar por um burn out significa de fato, já que o assunto é quase um dogma e as pessoas ainda evitam falar sobre as suas experiências, quando aconteceu comigo, não tinha a menor referência e foi muito assustador. No dia que aconteceu comigo, fiquei muito mais ansiosa que o normal, não conseguia relaxar de forma alguma. Em determinado momento eu desmaiei e acreditei que tinha morrido. Fiquei com muito medo, um estado de pânico com a ideia de ficar inconsciente e isso desencadeou um pensamento compulsivo no assunto, além de medo de dormir. Foram muitos dias sem conseguir ficar sozinha por muito tempo ou com muitas pessoas, sem andar de elevador ou de metro. Qualquer circunstância que pudesse me por em "estado de alerta” mental foi descartada, o que incluía filmes e músicas agitadas e obviamente o trabalho e aulas.
O processo de recuperação incluiu os três passos que descrevi acima, além de muita paciência e ajuda. Não só eu fui impactada com a situação, todos a minha volta foram e todos contribuíram para o meu retorno. Embora o burn out seja aterrorizante, no final a experiência me transformou numa pessoa muito melhor. Hoje sou muito mais resiliente e consciente das coisas, reajo melhor a diversas adversidades, tenho meus limites bem delimitados e procuro entender os dos outros também. Dito isso, tenho um aprendizado final:
4) Não espere ter um burn out para mudar o que é necessário!
E aqui falo em “ter um burn out” para além de você mesmo exclusivamente. Fique atento às pessoas a sua volta. Cuide delas e as ensine a se cuidarem. Suporte-as para fazer as mudanças que precisam ser feitas. Não negligencie os sinais que cada um mostra. Ter sentimentos de insegurança ou ansiedade não é sinal de fraqueza ou menor capacidade. Isso acontece com mais pessoas que você pode imaginar. Saúde mental é um objetivo coletivo e, em maior ou menor grau, todos devem buscar por isso, a diferença é que fica muito mais simples quando se tem apoio.
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