Cientificamente, diversas técnicas tem sido adotadas ao longo dos anos para mensurar criatividade. Desde desempenho contabilizado por honrarias e prêmios conquistados, bem como, quantidade de patentes registradas ou notas musicais utilizadas; até índices calculados baseados em performance em testes ou autoavaliações, que podem levar em consideração inúmeras dimensões. As técnicas de mensuração de criatividade acabaram sendo adaptadas ao longo dos anos de acordo com o objeto de pesquisa específico do cientista. Abaixo alguns exemplos e um breve histórico:
Tarefa de Usos Alternativos ou AUT (Alternative Uses Task)
O conceito de pensamento divergente elaborado por Joy Paul Guilford, que foi pesquisador e professor em universidades como a de Nebraska e Cornell, é composto de 120 habilidades e pelas capacidades de fluência, flexibilidade, originalidade e elaboração como dimensões cognitivas principais para criatividade. Em 1957, Guilford juntamente com Paul R. Christensen, também pesquisador, desenvolveu a primeira versão para avaliação de escalas e fluência criativa, que posteriormente daria origem ao teste de Tarefa de Usos Alternativos ou AUT (Alternative Uses Task). O AUT tem como principal objetivo avaliar fluência de pensamento divergente e consiste em pedir para que o avaliado atribua o máximo de usos para um objeto cotidiano, geralmente dentro de um período de tempo pré estabelecido. O teste não visa buscar respostas certas ou erradas, mas sim identificar características na gama de possibilidades trazidas pela pessoa testada, dentro das capacidades do pensamento divergente proposto por Guilford.
Fluência - o número de usos alternativos capaz de pensar;
Originalidade - quão incomuns são esses usos - evidência de "pensar diferente";
Flexibilidade - a gama de ideias, em diferentes domínios e categorias;
Elaboração - nível de detalhe e desenvolvimento da ideia.
O AUT é até hoje utilizado como base científica e teórica de diversos estudos. Também é utilizado como exercício prático para fortalecimento do pensamento divergente e, por consequência, da criatividade.
Testes de Pensamento Criativo de Torrance ou TTCT (Torrance Tests of Creative Thinking)
Em 1966, Ellis Paul Torrance, que foi pesquisador e professor em universidades como da Georgia, de Minnesota e de Michigan, se baseou no conceito de pensamento divergente de Guilford e desenvolveu sua primeira versão para os Testes de Pensamento Criativo de Torrance ou TTCT (Torrance Tests of Creative Thinking). Torrance ao longo de 30 anos, validou que as características criativas avaliadas pelo seu teste realizado com indivíduos durante a infância se relacionavam com a sua produtividade criativa na vida adulta, demonstrando assim a validade preditiva do seu teste. O modelo seguiu evoluindo e é até hoje um dos métodos mais utilizados no mundo todo, inclusive comercialmente, para avaliar criatividade tanto de modo figurativo, quanto verbal.
Questionário de Estilo Criativo ou CSQ (Creativity Styles Questionnaire)
Em 1997, V. Krishna Kumar, que é professor e pesquisador na Universidade de West Chester, desenvolveu o Questionário de Estilo Criativo ou CSQ (Creativity Styles Questionnaire), que se propõe a identificar como as pessoas realizam o ato criativo, baseado em uma autoavaliação, denominado de estilo criativo. O resultado é composto por 8 escalas que medem até que ponto o indivíduo se utliza daquelas características. São elas: crença em processos inconscientes, uso de técnicas, uso de outras pessoas, orientação para um produto final, autorregulação comportamental, superstição e uso do sentidos, além da escala Kumar-Holman universal. Para todas as escalas, quanto mais altos os resultados obtidos, maior o uso daquelas características em atividades criativas distintas. De acordo com as orientações propostas no próprio questionário, o termo "criativo é usado num sentido mais abrangente de fazer as coisas do dia a dia de novas maneiras como resolver os problemas da vida cotidiana e do mundo do trabalho, engajar-se em pesquisas científicas ou escrever, pintar, desenvolver música, etc.
Questionário de Realização Criativa ou CAQ (Creative Achievement Questionnaire)
Em 2005, Shelley Carson, que é pesquisadora e professora na Universidade de Harvard, desenvolveu o Questionário de Realização Criativa ou CAQ (Creative Achievement Questionnaire) com o intuito de ser um formato quantificável de criatividade para qualquer amostra. Shelley se baseou nas brechas demonstradas nos modelos predecessores adotando algumas suposições como a de que apenas um parcela bem pequena de indivíduos apresentariam medidas notáveis de criatividade, além de que realização criativa em alguma dimensão criativa não deveria servir como uma avaliação universal, mas sim o conjunto de realizações criativas acompanhadas de exposição e aquisição de conhecimento e habilidades em diversos campos. O CAQ avalia conquistas em 10 diferentes dimensões criativas (artes visuais, música, dança, projeto arquitetônico, escrita criativa, humor, invenções, descobertas científicas, teatro e cinema, e culinária) e é feito a partir de uma autoavaliação.
Mesmo com várias técnicas, criatividade ainda assim é algo bastante subjetivo de ser avaliado. De qualquer forma, deixo para você os testes CAQ e CST caso queiram utilizar, em tradução livre!
Referências
Carson, S.H.; Peterson, J.B.; Higgins, D.M. Reliability, validity, and factor structure of the creative achievement Questionnaire. Creativity Research Journal, 17, 37-50, 2005.
Chrysikou, E. G.; Thompson-Schil, S. L. Dissociable Brain States Linked to Common and Creative Object Use. Human Brain Mapping, 32, 665–675, 2011.
Junior, D. B. S.; Andrade, E. P .; Silva, F. S. M.; Cruz, K. R. M; Lima, F. M. S. S. O Uso de Técnicas de Medida da Criatividade: uma revisão sistemática da literatura. XXXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Brasil, Outubro, 2018.
Kumar, V. K.; Kemmler, D.; Holman, E. The Creativity Styles Questionnaire-Revised. Creativity Research Journal, 10, 51-58, 1997.
Wechsler, S. M. Avaliação da criatividade verbal no contexto brasileiro. Avaliação psicológica, Volume 3, n.1, Porto Alegre, 2004.
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