São pouquíssimos os registros na história de mulheres que tiveram importância “social” reconhecida por todos. Ainda levamos o nome de nossos pais quando nascemos e de nossos maridos quando casamos. A não tão famosa Simone de Beauvior foi parceira do, sim famoso, filósofo francês Jean-Paul Sartre; e juntos fizeram história lançando a revista Les Temps Modernes (no francês, os tempos modernos), em que criticavam formas de pensamento ultrapassadas e repressoras. O que poucos sabem é que após a morte de Sartre, Simone seguiu o legado da tão prestigiada revista que causava tanto alvoroço, sendo editora chefe até 1986 (ano de sua morte). Muito graças a Simone, Les Temps Modernes vive até hoje, impulsionando pensamentos questionadores e inovadores até hoje.
Simone foi uma brilhante escritora e filósofa, e por ser mulher, precisou por muito tempo usar a Les Temps Modernes para impulsionar seu trabalho e explorar suas ideias em pequena escala antes de criar seus primeiros ensaios e livros. Em um dos seus livros, O segundo sexo, escreveu a emblemática frase que me fez refletir por muito tempo: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A sociedade impõe muitas vezes à mulher ser menor, ganhar menos, ter menos oportunidades, ser obrigada a ser a maior, e muitas vezes única, responsável pelos filhos, pelo lar, sendo excluída da única verdadeira obrigação que ela tem: consigo mesma! Simone com certeza é uma prova disso, que embora tenha sido exemplar na sua luta e com um trabalho consistente, precisou ter o respaldo do companheiro e da revista para conseguir expor seus pensamentos.
É comprovado que vivemos numa era de transformações extremamente rápidas, onde ser produtivo e inovador é a base para o desenvolvimento e evolução das próximas gerações. Segundo o livro de Steven Johnson, De onde vem as boas ideias (você pode assistir um vídeo sobre o livro por esse link aqui: www.youtube.com/watch?v=BtgnozUgc58), não há inovação ou ideias realmente transformadoras e disruptivas se cultivarmos pensamentos iguais baseados em atitudes iguais! Ou seja, não há benefício nenhum para a sociedade se tomarmos decisões baseadas nas concepções de pessoas iguais. Convergir sempre leva ao óbvio! Inovação se dá através de diversidade de pensamento, de repertório e de crenças, pela interação entre pessoas diferentes que cocriam soluções sob diversas perspectivas e aspectos.
Se considerarmos que metade da população é homem, que metade dessa porção é branca, que dessa nova divisão, 2/3 são auto declaradas cisgênero e que, finalmente, desses, 6/7 não possuem algum tipo de deficiência; teremos aproximadamente apenas 15% das pessoas do mundo tomando decisões e expondo suas ideias. Ou seja, excluímos 85% de mentes do planeta. Um desperdício, não acha?
Segundo o estudo da consultoria Grand Thornton, realizado em 2017, chamado Women in Business, meninas em idade escolar tem em média um desempenho 65% melhor que os meninos. Essa diferença se mantem durante o ensino superior. É chocante quando nos deparamos com a estatística de que, em empresas, apenas 30% dos cargos são ocupados por mulheres, dependendo do segmento este número pode chegar a míseros 3%. Mulheres em cargos e liderança estão em torno de 15%. Se nossas meninas são tão ou melhor instruídas que os meninos, por que não chegam ao mercado de trabalho?
Os motivos são muitos, apontam diversos estudos, um deles diz que algumas mulheres acreditam não serem capazes de competir com homens! A prova disto é um outro estudo realizado pelo Linkedin, dizendo que mulheres apenas se candidatam a uma vaga de emprego se preencherem 100% dos requisitos explícitos na descrição da vaga. Enquanto isso, homens no geral se inscrevem para vagas se atendem em média a 70% dos requisitos listados. O mais alarmante é que esta estatística se repete nas contratações. Estes números passam a ser muito menores quando inserimos alguns outros fatores como o fato da vaga em si ser para um cargo de liderança, ou se a mulher ser considerada negra (agora imagina estes dois fatores combinados, não precisa ser bom em matemática).
Acredito que a evolução do mundo está ocorrendo agora e o aceleração disso depende muito de aumentarmos a diversidade dentro de todos os setores. Por sua vez, garantir diversidade é intimamente ligado em empoderar mulheres, dar a elas (a nós) voz e poder de decisão e atuação. Fazer com que acreditem em si mesmas, que busquem seus sonhos, que desafiem o sistema e que vençam, tudo isso para que de fato possam ser o que desejam, serem felizes e ajudar a sociedade como um todo a ser mais inovadora e evoluída. Para sorte de todos, o assunto esta bastante aquecido e se cada vez mais pessoas tomarem consciência da importância de se endereçar essa resolução, ou parte dela, conseguiremos de fato avançar.
E você? Está conosco nessa?
Adaptado, originalmente em 05 de Novembro de 2018.