Assisti Turning Red, traduzido para o Português como Red: Crescer é uma fera e fiquei apaixonada - a ponto de me emocionar e gente... e isso não é tão fácil de acontecer. Refletindo depois sobre as sensações que Turning Red me gerou, notei uma imensa semelhança com pontos abordados em outro conteúdo igualmente envolvente e impactante para mim, o livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. E é sobre isso que vou abordar nesse artigo!
Turning Red conta a história de Mei Lee -ou Mei Mei- uma jovem de 13 anos, filha de uma família tradicional chinesa, em Toronto, no Canadá, no começo dos anos 2000. Mei Mei é muito dedicada em tudo que faz, apresentando uma performance acima da média, sempre norteada pelas expectativas que a sua família (especialmente a sua mãe) tem sobre ela.
Mei Mei leva uma vida dupla, com suas amigas pensa, age e se comporta como qualquer outra adolescente, apaixonada por Boy bands e cultivando crushes ocultos por garotos mais velhos do seu bairro; já em casa, é uma criança devota à família, ajudando a cuidar do templo aos pandas vermelhos, que sua família administra, comportando-se dentro das tradições e educação rígida imposta por seus pais. Sua mãe é notavelmente super controladora, constantemente preocupada com a conduta da filha, chegando ao ponto de constrange-la para garantir que as interferências externas não corrompam seu modelo ideal a ser seguido.
Sem spoilers maiores, Mei Mei fica tão frustrada que se transforma em um Panda Vermelho gigante! Um bicho enorme e incontrolável surge sempre que emoções muito profundas são despertadas na protagonista! E essa é uma dádiva (ou maldição) carregada por todas as mulheres da sua família. Embora a animação possa ser facilmente relacionada ao dilema enfrentado entre pais e filhos à medida que crescem, o que realmente me tocou está mais relacionado a abraçar e acolher a mulher selvagem que todas nós, mulheres, carregamos.
As mulheres da família de Mei Mei aprisionam essa fera incontrolável em um ritual de passagem, para se manterem perfeitas e dentro dos padrões estipulados pela sua família para sempre. Assim como no livro Mulheres que correm com lobos, o aprisionamento dessa fera gera uma mar de frustrações e uma limitação infinita do potencial feminino. Afinal, banir a nossa própria fera ao exílio significa nos privar de uma parte importantíssima de nós mesmas também. O enorme Panda Vermelho desperto em Mei Mei é uma analogia perfeita desse encontro com essa mulher selvagem que habita dentro de todas nós.
Simone de Beauvoir, escritora e pensadora célebre, disse uma vez: não se nasce mulher, se aprende a ser uma. De fato, somos ensinadas e tolhidas de diversas maneiras para garantirmos a conduta de uma mulher de acordo com o esperado! E essa é uma cilada gigantesca, viver de acordo com o que esperam e não de acordo com o que se é. A mulher selvagem, ou o gigante panda vermelho, nos impulsiona e relembra que merecemos e temos a capacidade de sermos nós mesmas. Que exploramos todo o nosso potencial apenas se considerarmos essa parte incompreendida e que precisamos honrar a nós mesmas antes de qualquer outra coisa no mundo.
Mei Mei passa por esse dilema! Ela enfrenta, compreende e se apaixona por seu próprio Panda Vermelho, com seus infinitos desafios e qualidades únicas! E todos reconheceram que ela é muito maior e melhor assim <3